21.12.08

Ernst Meister




Na beira do mar


Na beira do mar
os risos: pescaram
um peixe que fala.
Mas ele diz
o que todo mundo já sabe.




Ernst Meister, trad. MP.

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20.12.08

10.12.08




Exercício para o novo ano


1) Tive uma ideia, foi um enjoo.

2) Matem a jiboia, mas o Méier fica.

3) Eu te perdoo, Bocaiuva.

4) O paranoico semirrígido tomava um extrasseco.

5) Biorritmo: Pode pôr, meu bem, e não para.

6) Recuso-me a fazer esta ultrassonografia antissemita.

7) O meu autorretrato já vem com antirrugas.

8) Ele apoia infraestruturas intraoculares neo-ortodoxas.

9) Caiu de paraquedas na antessala do micro-ondas.

10) Na Coreia, jogávamos os alcaloides pela claraboia.

11) Na plateia todos comemoravam o quinquênio da linguiça.

12) Estreia hoje "A Baiuca Subumana".



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6.12.08




Those were just to say


Não eram amoras, Bill
Me perdoe



(a William Carlos Williams)

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30.11.08


20.11.08






VIR


correndo


sol a pino

pela avenida





torquato

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15.11.08

Fiama Hasse Pais Brandão





Pedra em expansão


Diz não são os anos que passam
é a pedra

Não o tempo
o que por mim passa
mas ela
que somente acompanha

Diz não passam anos
para a minha idade
só uma pedra está


Fiama Hasse Pais Brandão

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12.11.08

andei somatizando uns salgadinhos em três botequins diferentes
até aí nada de mais se tua indiferença não me marcasse somati-
zando aguda dor de estômago e certa insônia e boca amarga
minha grande insegurança é que tua atenção ao cachorro parece
mais convincente
aliás o tempo de convivência faz a gente se acostumar com um
carinho certo que às vezes entorta quando alguém vira tua som-
bra e não tem nem tanta luz pra isso
tenho notado que escrever à mão dói mais que escrever à
máquina
será assim que os patrões escolhem a máquina e mandam a mão
à puta que lha pariu





texto: Charles, Coração de cavalo, 1979.
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11.11.08



1966

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10.11.08

7.11.08

Cacaso



Os vermes devoram a galinha. O rio
devora os vermes e se devora.

É logo ali Pirapora.



Cacaso, "Município", 1975.
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5.11.08




Chema Madoz

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31.10.08

Punk shui, design para anarquistas



Interiores
















Saiba mais do livro de Josh Amatore Hughes aqui.
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29.10.08

Casas de pó




Alguém já disse que os artistas precisam criar na mesma proporção da capacidade que a sociedade tem de destruir. É no que parece acreditar a artista colombiana radicada em Miami, Maria Adelaida Lopez, com suas "Casas de Pó". Enquanto a civilização limpa o seu pó e dá as costas, ela confecciona sua obra com casas de boneca e o pó dos aspiradores, formando paisagens da vida doméstica, da vida de dentro e de fora.









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28.10.08

Dicas para quem quer comprar ou alugar uma casa: saiba interpretar os anúncios



Você se pergunta o que isso tem a ver com literatura? Tudo, posso dizer sem medo de errar. Ora, se sabemos que a literatura se distingue das demais formas de conhecimento da realidade pelo fato de exprimir-se por meio de palavras polivalentes - palavras que contêm vários significados -, o que seria mais polivalente do que um anúncio dos classificados? Como a literatura, a propaganda também mente, engana, finge uma realidade que não é a que se conhece. Como a literatura, a propaganda é uma mera representação, uma realidade paralela. Portanto, classificar algo como "propaganda enganosa" é incorrer em redundância. Toda propaganda é forçosamente enganosa, ou não seria propaganda. Posto isto, vejamos alguns poucos exemplos de signos polivalentes em anúncios de casas. Quando você ler que uma casa

- é de "fácil acesso", isto pode significar que a casa fica em beira de rua, perto de um ponto de ônibus, ao lado de um supermercado, de uma casa de funk, de uma igreja evangélica, enfim, sem a menor privacidade e provavelmente barulhenta;

- é "rústica", significa que é tosca, detonada ou sem acabamento, provavelmente feita de material reaproveitado, sobras, o que eles chamam de "reciclado";

- é "charmosa", sem dúvida a casa deve ser torta, de arquitetura impossível, toda fora de esquadro, quando o próprio dono fez o projeto e chamou uns dois ou três pedreiros para levantar o trambolho;

- é "aconchegante", pode esperar que os cômodos são mínimos, impossível de abrir os braços no banheiro;

- é "ensolarada", é porque ela é tórrida, um Afeganistão, sem um pé de árvore para lhe consolar;

- é "sombreada", neste caso ela pode ser escura, úmida, cheia de mofo, quase sinistra; você vai começar a ter problemas respiratórios e achar que é asmático, vai ter dores nas articulações e achar que é reumatismo;

- tem "cisterna", prepare-se que a água é pouca, eventualmente você precisará de um caminhão-pipa para encher a cisterna;

- fica em "local tranqüilo", isto significa que ela pode ficar num fim de mundo, longe de tudo que se conhece por civilização, você vai levar horas para chegar em casa;

- fica em terreno com "ligeiro declive" ou "suave aclive", não pense duas vezes, a casa fica numa pirambeira;

E boa sorte.

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24.10.08


Wired Solitude




maira, solidão interativa, 2008
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22.10.08




Inscription for the ceiling of a bedroom


Daily dawns another day;
I must up, to make my way.
Though I dress and drink and eat,
Move my fingers and my feet,
Learn a little, here and there,
Weep and laugh and sweat and swear,
Hear a song, or watch a stage,
Leave some words upon a page,
Claim a foe, or hail a friend --
Bed awaits me at the end.

Though I go in pride and strength,
I'll come back to bed at length.
Though I walk in blinded woe,
Back to bed I'm bound to go.
High my heart, or bowed my head,
All my days but lead to bed.
Up, and out, and on; and then
Ever back to bed again,
Summer, Winter, Spring, and Fall --
I'm a fool to rise at all!

Dorothy Parker
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20.10.08

Procura-se um poema erótico que não faça sexo



Procura-se um poema erótico que não faça sexo, que não use as palavras contornos, curvas, fendas, gretas, canais, seios, gemidos, ventre, flancos, orgasmos, espasmos, espermas, gritos, gozo, bocas, dentes, desejo, língua, lábios, lóbulos, nádegas, coxas, corpos, beijos, abraços, mãos, dedos, mamilos, orelhas, cabelos, saliva, pernas, quadris, rego, abertura, carne, cama, lençóis, roupas, travesseiro, sucos, sumos, êxtase, febre, calor, suor, umidade, líquidos, pele, peso, teso, penugem, órgão, tato, encaixe, coração, paixão, prazer, ponto g, sedas, poros, incêndio, libido, dentro, fora, duro, mole, seco, molhado, hálito, adagas, facas, velas, varas, baloiço das ancas, pênis, vagina, ânus, clitóris e seus semelhantes, palavras estas que já começam a brochar e entediar os leitores. Cartas ao editor.

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15.10.08




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13.10.08

Mário de Sá-Carneiro




Meu querido Amigo, não sei por quê eu já não venho ao Café Riche. Talvez porque na mesa do fundo, ali no canto - onde um "monsieur decoré" se embebe do TEMPS - receie encontrar o Sá-Carneiro, o Mário, de 1913, que era mais feliz, pois acreditava ainda na sua desolação... Enquanto hoje... Descia-a toda; no fundo é uma coisa peganhenta e açucarada, digna de lástima e só para os rapazes do liceu a receberem à tourada. Creia o meu Amigo que é absolutamente assim - sem literatura má, sem paulismo, afianço-lhe. / A verdade nua e crua:

- Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...


Mas então para fixar o instante desta minha vinda ao Café Riche, onde agora já não entro com medo de encontrar o Mário - hoje felizmente ele não estava, estava só o monsieur do TEMPS - envio-lhe esta carta inútil e riscada que você perdoará, hem?



(Mário de Sá-Carneiro, em carta a Fernando Pessoa de 16 de fevereiro de 1916, dois meses antes de seu suicídio. O poema levou o título de "Fim".)


11.10.08

Jacques Lacan




O amor é dar o que não se tem
a alguém que não o quer.


-  Conferência de Louvain, 13 de outubro de 1972.

5.10.08

2.10.08

29.9.08

Luis de Góngora



Sou touqueira e vendo toucas,
meu cofre é como o das outras
pequeno, bem encourado,
e se abre com qualquer chave
conquanto primeiro pague
quem for abrir o toucado
pois eu não vendo fiado
como outras touqueiras loucas.
..............................



Luis de Góngora, em letrilha do séc. 17
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16.9.08

Drummond em miguxês



nU 1/2 Du kaMinhU tinHah 1 pedRaH
tiNhah 1 PEDrah nU 1/2 dU KaMinhU
tinHah 1 PedrAH
Nu 1/2 du KaminhU tINhah 1 PeDrAH


NuncaH mE eSKecEREi dEXXi ACoNTeciMenTu
nAH VIDAh DI minHaxXx retinAxXx taUm FAtigadaxXx
NUNcAH Me esKECereI ki nU 1/2 dU KAmiNhU
TInHah 1 peDrAh
TInHaH 1 PEDraH nu 1/2 du kaMiNHU
NU 1/2 du kaMInhU TINHaH 1 PEdrah


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10.9.08

4.9.08















andre jordan, que começou um blog belíssimo em 2004 por conta de uma depressão e publicou seu primeiro livro de ilustrações, If you are happy and you know it, no ano passado.

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2.9.08

31.8.08



Bons ventos do Distrito Federal. De 3 a 7 de setembro acontece a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, onde será realizada também a Mostra Revistas Brasileiras de Poesia na Biblioteca Central da UnB de 1 a 11 de setembro. A mostra, organizada pelo poeta e professor Paulo Custódio (Paco Cac), apresentará todas as revistas que se tornaram ícones da história literária brasileira. Não perca.


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26.8.08

e a noite está dentro de mim



Tudo é perigoso para quem sofre vertigens. Mas para quem não
desdenha os grandes saltos na inquietação e no obscuro,
tudo é bom para ser visto de perto.

Digo TUDO: as casas cheias de sombra e promessas aliciantes,
os grandes becos da nevrose, o tóxico, os olhos insones do
ciúme, as renúncias nas sacristias afastadas, os livros da
magia, os claros escritórios do jogo e da ambição, o inimigo
subterrâneo que nos saúda, a prostituta que nos recebe
sem suspeita, a conversa que pode decidir o futuro, TUDO.



Que melancólico crepúsculo o que se acende acima dos desejos satisfeitos.


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texto: Lúcio Cardoso, Diário completo.
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20.8.08

Poema de Julio Cortázar

Entro de noite em minha cidade, desço na minha cidade
onde me esperam ou me evitam, onde tenho que fugir
de algum encontro abominável, do que já não tem nome,
um encontro com dedos, com pedaços de carne num armário,
com um chuveiro que não acho, em minha cidade há chuveiros,
há um canal que corta ao meio a minha cidade
e navios enormes sem mastros passam num silêncio intolerável
para um destino que eu sei mas que esqueço ao voltar,
para um destino que nega a minha cidade
onde ninguém embarca, onde se está para ficar
embora os barcos passem e do convés liso alguém esteja
olhando para a minha cidade.
Entro sem saber como na minha cidade, às vezes outras noites
saio às ruas ou às casas e sei que não é na minha cidade,
a minha cidade eu conheço por uma expectativa acachapada,
algo que ainda não é o medo mas tem sua forma e seu cachorro
e quando é a minha cidade
sei que primeiro haverá o mercado com portais e casas de frutas,
os trilhos reluzentes de um bonde que se perde num rumo
onde fui jovem mas não em minha cidade, um bairro como
o Once em Buenos Aires, um cheiro de colégio,
muros tranquilos e um cenotáfio branco, a calle Veinticuatro de
Noviembre
talvez, onde não há cenotáfios mas está em minha cidade quando
é sua noite.

Entro pelo mercado que condensa a umidade de um presságio
ainda indiferente, ameaça benévola, ali as vendedoras de frutas
me olham
e me desafiam, plantam em mim o desejo, chegar onde for
necessário e podridão,
o podre é a chave secreta em minha cidade, uma fecal indústria de
jasmins de cera,
a rua que serpenteia, que me leva ao encontro daquilo que não sei,
as caras das vendedoras de peixe, seus olhos que não olham e é a
intimação,
e então o hotel, o desta noite porque amanhã ou algum dia será
outro,
a minha cidade são hotéis infinitos e sempre o mesmo hotel,
varandas tropicais de bambus e venezianas e vagos mosquiteiros e
um cheiro de canela e açafrão,
quartos em sequência com seus papéis claros, suas poltronas
de vime
e os ventiladores num céu cor-de-rosa, com portas que não
dão para lugar algum,
que dão para outros quartos onde há ventiladores e mais portas,
elos secretos do encontro, e é preciso entrar e continuar pelo
hotel deserto
e às vezes é um elevador, na minha cidade há tantos elevadores,
há quase sempre um elevador
onde o medo já começa a coagular, mas outras vezes estará vazio,
quando é pior estão vazios e eu devo viajar interminavelmente
até que pára de subir e desliza horizontal, na minha cidade
os elevadores como caixas de vidro que avançam em ziguezague
atravessam pontes cobertas entre dois edifícios e embaixo se
abre a cidade e cresce a vertigem
porque entrarei outra vez no hotel ou nas desabitadas galerias
de algo
que já não é o hotel, a mansão infinita a que conduzem
todos os elevadores e portas, todas as galerias,
e é preciso sair do elevador e procurar um chuveiro ou uma privada
porque sim, sem razões, porque o encontro é um chuveiro ou
uma privada e não é o encontro,
buscar a felicidade de cuecas, com um sabonete e um pente
mas sempre sem toalha, é preciso encontrar a toalha e a privada,
minha cidade são privadas incontáveis, sujas, com portinholas
de janelinhas
sem ferrolhos, fedendo a amoníaco, são os chuveiros, estão num
mesmo enorme quadrado de chão imundo
e uma circulação de pessoas que não têm figura mas que estão ali
nos chuveiros, enchendo as privadas onde também estão os
chuveiros,
onde devo tomar banho mas não há toalhas e não há
onde botar o pente e o sabonete, onde deixar a roupa, porque
às vezes
estou vestido na minha cidade e depois do chuveiro irei ao
encontro, andarei pela rua de calçadas altas, uma rua que existe
na minha cidade
e que sai para o campo, me afasta do canal e dos bondes
por suas toscas calçadas de tijolos gastos e suas sebes,
seus encontros hostis, seus cavalos fantasmas e seu cheiro de
desgraça.
Então andarei pela minha cidade e entrarei no hotel ou do hotel irei
para a zona das privadas ressumantes de urina e de
excremento,
ou estarei contigo, amor meu, porque contigo desci alguma vez
para a minha cidade
e num bonde espesso de passageiros estranhos sem figura
compreendi
que a abominação se aproximava, que ia acontecer o Cão e quis
aconchegar-te a mim, te proteger do espanto,
mas tantos corpos nos separavam, e quando te obrigavam a
descer entre um confuso movimento
não pude te seguir, lutei com a goma insidiosa de lapelas e caras,
com um guarda impassível e a velocidade e buzinas,
até me arrancar numa esquina e pular e estar só numa praça
ao crepúsculo
e saber que gritavas e gritavas perdida na minha cidade, tão
perto e inencontrável,
para sempre perdida em minha cidade, e isso era o Cão, era o encontro,
inapelavelmente era o encontro, separados para sempre na minha
cidade onde
não haveria hotéis para ti nem elevadores nem chuveiros, um
horror de estar sozinha enquanto alguém
se aproximaria sem falar para te encostar um dedo pálido na boca.
Ou a variante, estar olhando minha cidade da borda
do navio sem mastros que cruza o canal, um silêncio de aranhas
e um suspenso deslizar para aquele rumo que não alcançaremos
porque em algum momento já não há mais barco, tudo é plataforma
e trens errados,
as malas perdidas, os inúmeros trilhos
e os trens imóveis que subitamente se deslocam e já não é a
plataforma,
é preciso atravessar para encontrar o trem e as malas se perderam
e ninguém sabe de nada, tudo é cheiro de breu e de uniformes de
guardas impassíveis
até subir naquele vagão que vai sair, e percorrer um trem que
não acaba nunca
onde as pessoas comprimidas dormem em quartos de móveis
cansados,
com cortinas escuras e uma respiração de poeira e cerveja,
e será necessário andar até o final
do trem porque em algum
lugar é preciso encontrar-se,
sem que se saiba quem, o encontro era com alguém que não
se sabe e as malas se perderam
e tu, de quando em quando, também estás na estação mas teu trem
é um outro trem, teu Cão é outro Cão, não nos encontraremos,
amor meu,
te perderei outra vez no bonde ou no trem, de cuecas correrei
por entre gente apinhada e dormindo nos compartimentos onde uma
luz roxa
cega os panos empoeirados, as cortinas que escondem a minha
cidade.




Julio Cortázar

--

16.8.08

O importante na vida é olhar a paisagem.



caymmi

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10.8.08

Leminski


chove
na única
qu'houve





31.7.08

Luiza Neto Jorge




As casas vieram de noite

As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas fluem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas

---

A cabeça em ambulância

Há feridas cíclicas há violentos vôos
dentro de câmaras de ar curvas
feridas que se pensam de noite
e rebentam pela manhã

ou que de noite se abrem
e pela manhã são pensadas
com todos os pensamentos
que os órgãos são hábeis
em inventar como pensos

ligaduras capacetes
sacramentos
com que se prende a cabeça
quando ela se nos afasta

quando ela nos pressente
em síncope ou desnudamento
ou num erro mais espaçoso
ou numa letra mais muda
ou na sala de tortura
na sala escura, de infância.

---

Encantatória

Custa é saber
como se invoca o ser
que assiste à escrita,
como se afina a má-
quina que a dita,
como no cárcere
nu se evita,
emparedado, a lá-
grima soltar.

Custa é saber
como se emenda a morte,
ou se a desvia,
como a tecla certa arreda
do branco suporte
a porcaria.


Luiza Neto Jorge

--
imagem: Kitasono Katue
--

28.7.08

Dreamtigers




Na infância pratiquei com fervor a adoração do tigre: não o tigre oveiro dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica, mas o tigre rajado, asiático, real, que só homens aguerridos podem enfrentar, sobre um castelo em cima de um elefante. Eu costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas do Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural, pelo esplendor de seus tigres. (Ainda me lembro dessas figuras: eu, que não consigo recordar sem engano a fronte ou o sorriso de uma mulher.) A infância passou, caducaram os tigres e sua paixão, mas eles prosseguem em meus sonhos. Nessa tela submersa ou caótica continuam prevalecendo, e deste modo: adormecido, distrai-me um sonho qualquer, e de repente percebo que é um sonho. Costumo pensar então: isto é um sonho, pura diversão de minha vontade, e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre.

Oh, incompetência! Nunca meus sonhos sabem engendrar a almejada fera. O tigre aparece, sim, mas dissecado ou fraco, ou com impuras variações de forma, ou de um tamanho inadmissível, ou muito fugaz, ou tirante a cão ou a pássaro.


Jorge Luis Borges, "Dreamtigers", O Fazedor, 1960.



27.7.08

all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work ando no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work ando no paly makes kack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work ando no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dulla boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no paly makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull bou
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all wok and no palku makes jack a dull boy
all work ando no play makes jack a dull boi
all work ando no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
al, work and no gay makes jack a dull boy
all work ando no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a doll bou
all work and no play makes kack a vull boy
no por mucho madrugar amanece más temprano
no por mucho madrugar amanece más temprano
no por mucho madrugar amanece más temprano
no por mucho madranece adrugar mmás temprano
i do my best i do my best ido my best i do
my best i do my best i do my best i do my
i do my i do by my best i do my best best
best best best i do my best i do my best
some, but not enough, some, but not enough
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
please do please do please do please do
no por mucho madrugar amanece más temprano
np poi mucho madrugar amanece mas tempreamno
não deixe pramanhã o que pode fazer hoje
não deixe para a manhã o que pode fazer hoje
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
all work and no play makes jack a dull boy
livrar do vencilho desvencilhar livrar do
vencilho desvencilhar livrar do vencilho
desvencilhar livrar do vencilho desvencilhar
livrar do vencilho livrar do vencilho
livrar do vencilho livrar do vencilho
livrar do vencilho livrar do vencilho
livrar do que abafa desabafar livrar do
que abafa desabafar livrar do abafa
livrar do abafa livrar do abafa do
túnis capital da tunísia túnis capital
da tunísia túnis capital da tunísia
acorda vamos pra piscina do clube
acorda vamos pra piscina do clube
acorda vamos pra piscina do clube
acorda os cachorros fugiram
azar e muito vinho azar e muito vinho
azar e muito vinho azar e muito vinho
azar e muito vinho azar e muito vinho
quantos você teve? quantos você teve?
dos cachorros que fugiram dos cachorros
que fugiram fugiram fugiram fugiram
qual o tamanho da sua caixa? da caixa
i do my best i do my best i do my best
utensílios são outros utensílios
e túnis é capital da tunísia capital
all work all work all work all work all
work

--

25.7.08

Picuinhas literárias




picuinhas literárias: oswald de andrade x nelson rodrigues


As ferraduras mentais do sr. Nelson Rodrigues trotaram longamente pelo "asfalto é nosso" de uma revista que desde a capa traz um tom laranja que não engana. Trata-se evidentemente de um comício laranja, onde só ele surra os seus maus sucessos e enche de invectivas as páginas mornas daquele repositório comportado de opiniões parlamentares, tímidas conversas moles sobre a Rússia e histórias do namoro de Bernard Shaw com Sarah Bernhardt.

Nunca em minha vida li um documento de insânia tão descosido, intempestivo e bravio. Não há lógica de louco que consiga acompanhar esse disco voador da besteira pelos corcovos, carambolas e girândolas em que se desagrega e pulveriza.

É melhor documentar que comentar.

O alarve que escreveu Álbum de família declara-se "espiritualista" e "antidivorcista". Raciocina ele assim: "Se a gente tem um pai só, por que não há de ter uma mulher só?"

Depois, num assomo de reacionarismo, diz que o homem de Marx é um homem inexistente. Está claro, a Rússia não existe.

Certo como está de que não atingirá a imortalidade aqui na terra, com sua coleção de torvas tolices espetaculares, opta sabiamente pela imortalidade da alma. Só assim poderá ele sobreviver.

O caso Nelson Rodrigues demonstra simplesmente os abismos de nossa incultura. Num país medianamente civilizado, a polícia literária impediria que a sua melhor obra passasse de um folhetim de jornalão de quinta classe. Mas não temos nem crítica nem críticos. E o caos trazido pela revolução mundial, que se processa sob todas as formas, permitiu que qualquer fístula aparecesse em cena vestida de noiva. A alta costura de Ziembinski -- Santa Rosa conseguiu que se consumasse a façanha teratológica.

Daí por diante, o insano ficou impossível. Veio Álbum de família e agora, num bom acesso de sã consciência, ele confessou que há mau gosto em seu teatro. Como se outra coisa houvesse! Guiado pela mão caridosa do sr. Tristão de Athayde, vamos ver o monstro contrito subir para o céu como num fim de mágica. Já crê em Deus e nos conventos e declara que "a única solução para o problema sexual é a castidade". Patetamente declama: "O homem que não compreende a grandeza de um convento não compreende nada!"

Se o sr. Nelson Rodrigues não fosse um taradão ilustre, mas de poucas letras, pensaríamos que se pudesse tratar de um convento do Aretino. Mas estamos certos de que nem dessa piada ele é capaz. Quem foi Aretino, seu Nelson?




Oswald de Andrade, em "O analfabeto coroado de louros", crônica publicada no Correio da Manhã em 8 de junho de 1952.




23.7.08

Edgar Allan Poe



Estou parado em meio ao fragor
De uma praia batida pelo tempo,
E seguro em minha mão
Algumas partículas de areia -
Quão poucas! e como escorrem
Por entre meus dedos para a profundeza!
Minhas esperanças jovens? não - elas
Se foram gloriosamente,
Como os relâmpagos do céu
Num instante - e assim irei.


-

17.7.08



SENTENÇA JUDICIAL CONTRA CRIME DE ESTUPRO DATADA DE 1833 - PROVÍNCIA DE SERGIPE


O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra, que estava em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.

CONSIDERO:

QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;

QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.


CONDENO:

O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.

Nomeio carrasco o carcereiro.

Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha Sergipe, 15 de Outubro de 1833


Fonte: Instituto Histórico de Alagoas


16.7.08

Corvo frio

 


talvez ela traga um corvo frio 
na mão esquerda 
feche a porta 
e não fale nada --



12.7.08


Deem-me o manto. Ponham-me a coroa. Tenho ânsias imortais em mim. Não mais o néctar de uvas molhará meus lábios. Depressa, Iras! Depressa! Sou ar e fogo, os outros elementos dou à vida mais baixa. Tenho eu veneno nos meus lábios? A morte é como o gesto de um amante que fere e é desejado. Este mundo não vale o nosso adeus. Cleo 

10.7.08

a ira é a minha carne; me comendo,
eu me mato de fome.


V.


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15.6.08

10.6.08



Às vezes vou passando,

passando

e acho que o lado de fora

não existe quase.







ana c.

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6.6.08

Eugenio Montejo


Dura menos un hombre que una vela... 

Adiós al siglo XX


Cruzo la calle Marx, la calle Freud;
ando por una orilla de este siglo,
despacio, insomne, caviloso,
espía ad honorem de algún reino gótico,
recogiendo vocales caídas, pequeños guijarros
tatuados de rumor infinito.
La línea de Mondrian frente a mis ojos
va cortando la noche en sombras rectas
ahora que ya no cabe más soledad
en las paredes de vidrio.
Cruzo la calle Mao, la calle Stalin;
miro el instante donde muere un milenio
y otro despunta su terrestre dominio.
Mi siglo vertical y lleno de teorías...
Mi siglo con sus guerras, sus posguerras
y su tambor de Hitler allá lejos,
entre sangre y abismo.
Prosigo entre las piedras de los viejos suburbios
por un trago, por un poco de jazz,
contemplando los dioses que duermen disueltos
en el serrín de los bares,
mientras descifro sus nombres al paso
y sigo mi camino.

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El esclavo

Ser el esclavo que perdió su cuerpo
para que lo habiten las palabras.
Llevar por huesos flautas inocentes
que alguien toca de lejos
o tal vez nadie. (Sólo es real el soplo
y la ansiedad por descifrarlo.)

Ser el esclavo cuando todos duermen
y lo hostiga el claror incisivo
de su hermana, la lámpara.
Siempre en terror de estar en vela
frente a los astros
sin que pueda mentir cuando despierten,
aunque diluvie el mundo
y la noche ensombrezca la página.

Ser el esclavo, el paria, el alquimista
de malditos metales
y trasmutar su tedio en ágatas.
en oro el barro humano.
para que no lo arrojen a los perros
al entregar el parte.

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Canción

Cada cuerpo con su deseo
y el mar al frente.
Cada lecho con su naufragio
y los barcos al horizonte.

Estoy cantando la vieja canción
que no tiene palabras.
Cada cuerpo junto a otro cuerpo,
cada espejo temblando en la sombra
y las nubes errantes.

Estoy tocando la antigua guitarra
con que los amantes se duermen.
Cada ventana en sus helechos,
cada cuerpo desnudo en su noche
y el mar al fondo, inalcanzable.



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2.6.08

Cervantes




yo, que siempre trabajo y me desvelo
por parecer que tengo de poeta
la gracia que no quiso darme el cielo







imagem: franz roh


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17.5.08

Manuel Bandeira e a poesia sem importância



Não concordo com o Mário [de Andrade] no preconceito de novidade: posso encontrar poesia em lugar-comum sentimental. Daí gostar de coisas suas que ele acha sem importância. Posso eu achar também sem importância e no entanto gostar. Você é justamente um desses poetas que chateiam os outros com coisas sem importância. Creio que você entende bem o sentido em que emprego a expressão "coisa sem importância". Digo isso porque o Mário faz diferença entre coisa sem importância com interesse artístico e coisa sem importância mesmo. Pois pode me suceder que eu goste e me comova com a "coisa sem importância mesmo".

Eu acho a estética uma coisa arriscadíssima porque os dados são falhos, a matéria imponderável... Naturalmente tudo o que se constrói sobre essa base é molto leggero, troppo leggero... [...] para você arte é criação emotiva. Estou de acordo. Imediatamente a seguir vem: "Que é que eu procuro, lendo? Gozo da inteligência." Ora, quando eu leio um capítulo de física, procuro também gozo da inteligência e o consigo. Física não é arte. Logo, por você encontrar gozo da inteligência numa carta não pode dizer que carta é arte. Poderá sê-lo quando houver "criação emotiva". Um capítulo de física pode gerar emoção mas esta será de caráter científico. Há uma emoção específica própria da arte e ela deriva da criação ou recriação de vida. As cartas que você tanto aprecia e chama substanciosas são aquelas em que não há composição, em que a inteligência crítica intervém pouco. Em literatura quer-se mais composição, mais crítica. Você aprecia muito as minhas cartas, mas toda vez que eu apliquei o processo epistolar a poemas ou artigos desagradei você. [...] No fundo (inconscientemente) você está com o Mário e eu acho que com razão: um poema é uma composição; quando não há composição, o que existe é um fragmento lírico. Naturalmente há mais frescura no puro lirismo. Porém maior "gozo da inteligência" na composição. Basta de estética.



Manuel Bandeira em cartas datadas de 1926 a Ribeiro Couto, a quem Mário de Andrade julgava um poeta banal, de lirismo sentimental, o pior crítico do mundo. A imagem é de Cindy Sherman.

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14.5.08



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10.5.08

Mário Faustino



Deixo a quem quer que seja
A quem queira, a quem possa, a quem sirva, a quem goste,
A tarefa de construir um mundo novo.
Minha obrigação, o mínimo
Que inda posso fazer,
É ajudar acabar com este monturo
Onde inadvertidamente me jogou a
Senhora minha mãe.
Há múltiplas maneiras de ajudar a acabar
Com o monturo
(O monturo, aliás, não tem nada de grande,
é até fácil de arrasar.)
Há uma que particularmente me apeteceu.
Uma delas é arrebentar-lhe ostensivamente
com as regras do jogo.
A outra é desenvolver até o requinte
as referidas regras do jogo
E obedecer, também até o requinte,
as ditas regras do jogo.
Outra maneira é aumentar o monturo fazendo filhos
Educando-os e ensinando-os higienicamente
a fazer outros filhos.
Outra maneira é ir à missa todos os domingos
e contribuir para as obras da paróquia.
Outra maneira é lançar mais um jornal,
Mais um partido, mais um grupo de estudos,
Mais uma conspiração militar ou civil



Mário Faustino

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8.5.08




deixa passar o passado. deixa passar o passado. deixa passar o passado. daqui não ouço as ondas lá fora. elas falam mal de mim. a cada golpe de mar calado de água. deixa passar o passado. ele também é como os outros. todos os passados são um. até o da ucraniana que ri dentro da cabine. rir não afunda. joga álcool e ateia fogo. o corredor é um osso. de norte a sul. firme, não perco o equilíbrio. manobro com cuidado. deixo passar o mundo e viro à direita.


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1.5.08

Triste para ela




eu posso duvidar dos meus ouvidos, não de mim. os espíritos são mudos. eu disse, ela não acreditou. esticou uma fileira de sal na porta de casa, pregou na porta do quarto uma estrela de seis raios e debaixo do travesseiro pôs uma tesoura aberta. os espíritos são reflexos da sua alma, insisti. ela virou todos os espelhos. aqui em casa espíritos não têm hora para aparecer. às vezes aparecem no meio de uma dor de cabeça. naquele jeitinho de quinta-feira. cada um ouve o que deve ouvir. triste para ela, quando o ouvir é mais importante do que o vivido. quase não sai de casa. ouve vozes por trás das vozes da TV. e todos os outros ruídos vindos do silêncio. mandou construir 28 degraus até o sótão, como no palácio de Pôncio Pilatos. nunca subi. não gosto de sótãos. não a vejo há quatro dias, embora moremos na mesma casa. talvez seja a minha voz que ela não quer ouvir. como o meu trabalho é escrever, me pediu que procurasse nos tantos livros que li -- aqui senti um tom de desprezo -- umas simpatias para apaziguar os seus nervos. não queria mais ouvir os mortos. foi bem assim. senti um arrepio na hora. mas depois de quatro dias sem vê-la, a convivência aqui está bem melhor e meu humor vem mudando. talvez ela até goste das minhas simpatias para cortar malefício de mortos indesejáveis, para evitar que os mortos falem mal de você, para agradar seu morto da guarda, para o morto não fugir com a sua melhor amiga, para calar a boca de morto de língua solta, para espantar morto de maus bofes, para curar morto destrambelhado, para morto deixar de babar, para morto cheio de xodó, para amansar morto brabo, para morto que tem medo de estar morto, para cortar olho-grande de morto, para entender conversa de morto estrangeiro, para dar um sossega-leão em morto de morte matada e para afastar morto com mania de psicografar. bem, cortei esta última. é tão bom morar de frente pro mar.





25.4.08





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18.4.08

Edmond Jabès




Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia, não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento.

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Estou à procura
de um homem que não conheço,
que nunca foi tão eu mesmo
quanto desde que comecei a procurá-lo.
Teria ele meus olhos, minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhantes
aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufrágios,
o mar deixa de ser mar,
para tornar água gelada dos túmulos.
Mas, mais longe, quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto,
enquanto a noite reina sobre as árvores,
pastora em meio a seus carneiros.
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderá mitigar.
Com as pedras, um mundo se devora
para ser, como eu, de parte alguma.



Edmond Jabès, "A canção do estrangeiro".

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17.4.08

book art 3




Su Blackwell

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15.4.08

book art 2





O inconsciente do texto literário. O interessante é que o desejo que o escritor teve de escrever irá se projetar no leitor, não para escrever como o autor lido, mas para escrever a partir dele mesmo. A leitura é condutora do desejo de escrever... o que desejamos é apenas o desejo que o escritor teve de escrever: desejamos o desejo que o autor teve do leitor enquanto escrevia, desejamos o ame-me que está em toda a escritura.

Rafael Andrés Villari

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14.4.08

book art 1






- trabalho dos alunos do curso de Book Art, da Universidade de Montevallo, Alabama.

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