23.12.11

Vinho de cocaína





Provei uma única gota do seu vinho mágico 

E tornei-me uma fantástica princesa inca 

A recitar os versos litúrgicos 

Coca yhamuspa sachamanta 

Cutichin hinti guagtaste 

Yathun socoyock hui 

Napipa huinnaimincama 



 Judith Gautier, laudando o Vin Mariani, o primeiro vinho
de coca produzido e muito popular nos anos 1860.

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5.12.11

Marlon Brando, carta de amor a uma aeromoça, 1966





- Oh, what a mess! (purr).





Dear Lady -

There is something not quite definable in your face - something lovely, not pretty in a conventionally thought of way. You have something graceful and tender and feminine (sp). You seem to be a woman who has been loved in her childhood, or else, somehow by the mystery of genetic phenomena you have been visited by the gifts of refinement, dignity and poise. Perhaps you cannot be accredited with all that.

Irrespective of your gothic aspects, you have passed something on in terms of your expression, mien and general comportment that is unusual and rewarding.

It's been a pleasant if brief encounter and I wish you well and I hope we shall have occasion to cross eyes again sometime.

Best wishes

Marlon Brando

Savoy


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26.11.11

Lyrische Novelle





Carson McCullers gostava de

Annemarie Schwarzenbach



que gostava de

Erika Mann



que gostava de

Therese Giehse



que gostava de Annemarie que também gostou de

Marianne Breslauer




e Ella Maillart




enquanto fugia de Carson McCullers
que viveu o resto da vida assombrada
pelos reflexos do olhar dourado e o rosto de
Annemarie que nunca parou de gostar de
Erika Mann e de fugir da mãe Renée
que gostava de Emmy Krüger
e do cachorrinho.




(Anos 1930: a vida turbulenta de escritoras, fotógrafas, atrizes,
uma cantora de ópera e uma mãe nazista neta de Bismarck.)

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23.11.11

Venha morrer na minha casa




Eu só tinha um título. E a vítima. Precisava da história que inventaria para atraí-la ao meu destino. Era uma noite seca e eu ouvia atentamente o silêncio embrulhando as folhas que caíam na calçada: se estiver escuro à tua frente, nunca fica de costas para ele. Eu encarava a janela fechada fingindo esperar alguém. Do outro lado da vidraça o céu negro fingindo esperar tudo que espero de uma pessoa. Ao meu lado, a cadeira e a corda. Aqui me darás a mão. Aluguei o apartamento há dois meses, parece que moro ali há centenas. O inquilino perfeito. Sem ninguém além das paredes brancas. Quase como gelo escapado ao mar. O prédio antigo e comercial é um cubo cinza. O próximo à direita. Subo pela escada, na curva trêmula das lixeiras. Em algum andar eu preciso que acabe. Não mandei ligar a luz. Quando entro, acendo a lanterna. Minhas pupilas se dilatam em três segundos. Esqueço a mão nos cabelos. Ninguém me pagou para fazer isso. Não há contrato nem veneno de rato no armário da cozinha. Se trago um café da rua, bebo depressa. A investigação será fácil. O espaço exato das folhas dos jornais. Sem sangue nas luvas para contar-lhes o resto. Só profissionais planejam mínimos detalhes. É a minha primeira vez. O ódio tem mais tempo. Lágrimas formando espuma. Custo a dormir. Ouço risadas na água, não sei a mando de quem. O ruído dos meus lábios debaixo de mim. Fico me perguntando como uma morte a mais no mundo ajudará na formação do meu caráter. Metade do meu cérebro teme por mim. Metade ninguém metade daqui a pouco. Trago anotado o número do telefone no espelho embaçado do banheiro. Certas pessoas não deviam confiar nos amigos. São os primeiros a juntar-nos ao sal para que não fiquemos insípidos. Não me surpreenderia se cortassem metade da cena e a virassem na pia. Há uma outra. A casa sempre aberta, a mesa sempre farta. O conforto de olhos recostados, guarda-chuvas transpirando, ferramentas úteis ao trabalho, à família. O conforto do entulho. Não precisar me mexer para sair do lugar. Esta é a minha parte. Apegar-me a coisas que teria coragem de perder. A mesma noite de volta outra vez dizendo venha jantar comigo. Se ela soubesse que era mentira, não atenderia. Não dobraria o corredor. Sairia correndo da areia sem deixar nenhum rastro. Mas já era um percevejo no alfinete ao cruzar minha porta num clarão de fósforo. O que queria de mim não conseguiu. Não valia muita coisa, mas era meu. Assim seja.

MP, 2011.

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22.11.11




Paul Bowles


(rascunho, clique para ampliar)

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15.11.11

Fliporto 2011



À esquerda, Eliane Garcia, videomaker do meu poeminha,
recebendo o prêmio que abiscoitamos na Fliporto 2011,
em Olinda. Valeu!


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8.11.11




Uma historinha para quem não gosta de spoilers:



O medo de


Irene era casada. Tinha um amante, um apartamento para encontros e dois filhos. O marido, juiz. Da alta sociedade vienense. Até que um dia uma mulher desconhecida descobre o adultério de Irene e passa a chantageá-la. Irene enlouquece e. A desconhecida a assedia sempre que Irene está na. O marido então. Irene tremia sempre que. Os filhos começam a. Um dia o amante resolve. Os criados sabem quando. A sensação de náusea foi ficando cada vez mais. Irene precisava fazer com que. Subiu as escadas com. O marido nem. Se o motorista fosse um pouco menos. A primeira medida foi. Entrou no escritório e. Quando se lembrou da. Imediatamente recusou-se a. Postou-se atrás das grades onde. Acabou que de repente. Ainda doía um. Abriu os olhos e. Muitas vezes.



MP, 14:43.

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4.11.11

e. e. cummings




"next to of course god america i
love you land of the pilgrims' and so forth oh
say can you see by the dawn's early my
country 'tis of centuries come and go
and are no more what of it we should worry
in every language even deafanddumb
thy sons acclaim your glorious name by gorry
by jingo by gee by gosh by gum
why talk of beauty what could be more beaut-
iful than these heroic happy dead
who rushed like lions to the roaring slaughter
they did not stop to think they died instead
then shall the voice of liberty be mute?"

He spoke. And drank rapidly a glass of water


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2.11.11

I do not write rhymes for dad



I do not write rhymes for dad

Ok, aí está. Nosso vídeo conquistou o segundo
lugar no V Prêmio Internacional Poesia ao
Vídeo da VII Festa Literária Internacional
de Pernambuco - a Fliporto.

Meus agradecimentos aos inúmeros
amigos que acreditaram e
participaram da empreitada.
E vamos em frente.

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25.10.11

18.10.11

Poesia ao Vídeo Fliporto


É com este vídeo de Eliane Garcia sobre um poema meu
que estamos concorrendo ao V Prêmio Internacional de
Poesia ao Vídeo da Festa Literária de Pernambuco, a
Fliporto, a ser realizada de 11 a 15 de novembro de 2011.
Agradeço ao pessoal da Plumagenz Criação Cultural & Design,
responsável pela ideia. A votação online dos 10 finalistas
será pelo site da Fliporto, onde você poderá ver os 45
vídeos pré-selecionados.



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11.10.11




Mancha de uma colher entortada por um paranormal.

prata oxidada em lenço de algodão.

Cornelia Parker, 1999.


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8.10.11



There'll be bluebirds over
The white cliffs of Dover
Tomorrow
Just you wait and see

I'll never forget the people I met
Braving those angry skies
I remember well as the shadows fell
The light of hope in their eyes

And though I'm far away
I still can hear them say
Bombs up...
But when the dawn comes up

There'll be bluebirds over
The white cliffs of Dover
Tomorrow
Just you wait and see

There'll be love and laughter
And peace ever after
Tomorrow
When the world is free

The shepherd will tend his sheep
The valley will bloom again
And Jimmy will go to sleep
In his own little room again

There'll be bluebirds over
The white cliffs of Dover
Tomorrow
Just you wait and see


29.9.11

Wilfred Owen



Dulce et decorum est


Recurvados, como velhos mendigos sob sacos,
Cambaios, tossindo feito bruxas enrugadas, praguejamos no lodaçal,
Até que, à luz melancólica dos sinalizadores, viramos as costas
E começamos a longa caminhada rumo ao repouso distante.
Homens marchavam dormindo. Muitos haviam perdido as botas
Mas, sangrando, prosseguiam. Todos mancando; todos cegos;
Bêbados de cansaço; surdos mesmo ao som
Dos obuses sonolentos que caíam atrás de nós.

Gás! Gás! Rápido, rapazes! – O êxtase de procurar e
De ajeitar, bem a tempo, as máscaras malfeitas;
Mas alguém ainda gritava e tropeçava
Debatendo-se como um homem em chamas ou coberto de cal viva...
Opaco, através das lentes embaçadas e da espessa luz verde,
Como sob um verde mar, eu o vi se afogar.

Em todos os meus sonhos, diante de meus olhos inúteis,
Ele se lança sobre mim, sufocando, engasgando, afogando.

Se em algum sonho sufocante você também pudesse passar
Atrás do vagão onde o atiramos,
E ver os olhos brancos contorcendo-se em seu rosto,
Naquele rosto sem vida, qual um demônio cansado de pecar;
Se você pudesse ouvir, a cada solavanco, o sangue
Brotar gargarejando dos pulmões cheios de espuma,
Obsceno como o câncer, amargo como o vômito
De feridas vis e incuráveis em línguas inocentes,
Meu amigo, você não diria com tanto brio
Às crianças ansiosas por uma glória desesperada
A velha Mentira: Dulce et decorum est
Pro patria mori.

Wilfred Owen, 1917.-

27.9.11

Da urina faça-se luz




Protocolo do experimento:


Pegue uma Quantidade de Urina (para o Experimento, não menos do que 50 ou 60 Baldes cheios); deixe-a descansar em uma ou mais banheiras, ou em um Barril de Madeira de carvalho, até que ela apodreça e produza vermes, o que ocorrerá em 14 ou 15 dias. Depois, numa chaleira grande, coloque um pouco da urina para ferver em fogo alto e verta mais à medida que ela se consome e evapora e assim até que, ao final, toda a Quantidade seja reduzida a uma Pasta, ou um Carvão duro, ou uma Crosta, que é o que vai parecer; e isto pode ser feito em dois ou três Dias, se o Fogo for bem mantido, caso contrário pode levar Quinze dias ou mais. Então pegue a mencionada Pasta, ou Carvão; moa-o até virar pó e acrescente Água, até uns 15 Dedos de altura, ou quatro Vezes mais do que a quantidade de Pó; e ferva-os juntos por ¼ de Hora. Em seguida coe o Líquido num pano de lã; a sobra pode ser descartada, e o Licor coado deve ser fervido até formar um Sal, o que levará algumas Horas.

Após isso acrescente um pouco de Caput Mortuum (ou "cabeça da morte", encontrada em qualquer boticário) ao sal e adicione álcool à mistura resultante para que se transforme numa espécie de Papa.

Em seguida evapore tudo em Areia morna e restará um Sal vermelho ou avermelhado. Pegue este Sal, coloque-o numa retorta e, na primeira hora, comece com um Fogo brando; aumente-o na segunda, mais forte na 3ª e mais ainda na 4ª; depois prossiga, com o fogo mais alto que puder, por 24 Horas. Às vezes, pela Força do Fogo, 12 Horas são suficientes; porque quando vir o Recipiente branco brilhando com o Fogo e não houver mais Lampejos, ou como se fossem Rajadas de Vento que de vez em quando saíssem da retorta, o trabalho estará terminado. E pode-se, com Plumas, juntar o Fogo, ou raspá-lo com uma Faca, quando ele grudar.

O Fogo fica mais bem preservado num Recipiente de Chumbo, lacrado para não entrar Ar. Mas para vê-lo, também pode ser colocado num Vidro, em Água, onde ele brilhará no escuro...



Robert Hooke, membro da Royal Society, em anotações raras publicadas em 1726. Os alquimistas pesquisavam a pedra filosofal e acabaram descobrindo o phosphorus mirabilis, o maravilhoso portador da luz. Em William Derham, Philosophical Experiments and Observations of the Late Eminent Dr Robert Hooke FRS...and Other Eminent Virtuoso's of his Time, Londres, 1726.


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16.9.11




-- Todo mundo se pergunta o que Ted Hughes vai fazer quando esgotar os animais.

-- Poetas não esgotam seus temas como acontece com os romancistas. Eles não dependem tanto do conteúdo.



(Julian Barnes, "Sense of An Ending". Na foto Hughes, talvez compondo "View of a Pig"?)

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18.5.11

A poesia em pânico*


ágios agua dos mares alimenta alma amar comigo amei amiga angustia anjos aponto atridas atriz bela Berenice braços branca cabeleira cabeleira de Berenice cançado candelabros cerebro céu e a terra circula comunidade consciencia constelações coração corpo creação Cristina demonio desdobrando Deus A Materia diante Doce mistério doce o pensamento duplo e o desespero Eros Cristus esfinge espera espirito esposo estandartes estrela Venus eternidade existe faço esmola fascina febre filhos fisico força do amor fórma germina gosto gramofone grito homem homens inferno instante irmãos Kyrie levem-me mãi maquilhagem morrer mulher mulher-cometa mundo musica nascer naturesa novos amores olfato olhar olhos ouvidos palavra de consolo pecado pedra pensamento da morte poema poesia poetas preciso principio propria prostituta quero te abraçar quisera Regina responsavel rublo sangue Satan sentidos sete pecados sinão sinfonia sofro tambem tenho pena ternura terrivel transhumana tunica URSS vejo vestidos violoncelos Vitoria vivo volupia vós tres



C
* como o google.books resume o livro de Murilo Mendes.




Para onde vão os trens meu pai?
Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços
no mapa, e depois o pai ria: também
pra lugar algum meu filho, tu podes
ir e ainda que se mova o trem
tu não te moves de ti.


Hilda Hilst
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6.5.11




Moving from left to left, the light
is heavy on the Dome, and coarse.
One small lunette turns it aside
and blankly stares off to the side
like a big white old wall-eyed horse.

On the east steps the Air Force Band
in uniforms of Air Force blue
is playing hard and loud, but--queer--
the music doesn't quite come through.

It comes in snatches, dim then keen,
then mute, and yet there is no breeze.
The giant trees stand in between.
I think the trees must intervene,

catching the music in their leaves
like gold-dust, till each big leaf sags.
Unceasingly the little flags
feed their limp stripes into the air,
and the band's efforts vanish there.

Great shades, edge over,
give the music room.
The gathered brasses want to go
boom-boom.


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Elizabeth Bishop, "View of the Capitol from the Library of Congress". Poema de subtexto antibélico escrito em novembro de 1950 e enviado a amigos por correspondência com a intenção de ser um mero cartão-postal. Só seria publicado cinco anos depois, quando Bishop, talvez ingenuamente, notou pela primeira vez seu "cunho subversivo".

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17.3.11

Miren Agur Meabe

Diagnóstico


Esta enfermedad es degenerativa.

Consiste en destruir los tejidos comunicativos:

en contraer la piel

(se pierde la sensibilidad a las caricias),

en reducir el foco visual

(se limita al espacio del libro que leemos).

Nos fatiga incluso hablar.

Y cada vez que pronunciamos un sonido,

nace provisto de largos pseudópodos grises

y se queda flotando en la salita,

como si ese fuera su destino:

una extraña ameba que ignora la hora de acostarse.

Nos afecta al oído, sordos en el búnker.

Papilas y lenguas ya están paralizadas.

La nariz es antena que percibe al instante

la chamusquina de una queja o el empalago de un suspiro.

Diagnóstico:

cáncer cíclico de silencio.

Periodo de incubación:

las rachas de impaciencia.

Previsión de recaídas ( salvo que la ciencia del perdón

descubra otros remedios):

tantas como fracasos del uno junto al otro.

Tratamiento profiláctico:

una cena en un bonito restaurante de vez en cuando

y cada mañana:

un pensamiento alegre al decir "buenos días".

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13.3.11

António Botto

Pedir amparo a alguém é uma loucura.
Pedir amor,
Também nada resolve – e para quê?
O amor corre – e em seus próprios movimentos
Isola-se, e de tudo parece que descrê;
E quando vem dizer-nos que é verdade,
Vê-se a mentira
Em que ele a rir afirma o que não vê.


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8.3.11

Sylvia Plath


Poemas são um mau começo: especialmente os mais complexos: eles me paralisam depressa demais por muito pouco. Melhor poemas curtos como exercício de descrição que não exijam desenvolvimento lógico ardiloso, verdadeiras armadilhas filosóficas. Pequenos poemas sobre o patim, a vaca ao luar, à Sow. Muito concretos, no sentido de que os mundos são personificados em minhas palavras, e não declarados em abstrações, ou em denotações espirituosas em três níveis claros. Descrições curtas nas quais as palavras tenham uma aura de poder místico: nomear o nome de uma característica: delgada, picante, lustrosa, chanfrada, lívida, luminosa, bojuda. Sempre nomeá-las em voz alta. Torná-las irrefutáveis.




Sylvia Plath, 17 de julho de 1957, começando um dia de trabalho. The Journals of Sylvia Plath.


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1.3.11

Mário de Andrade


PONTEANDO SOBRE O AMIGO RÚIM

(Março de 1927)


Enfim a gente não é mais amigo um do outro não.

Você anda facil, levianinho,
No labirinto das complicações.
Que subtileza! quanta graça dançarina!...
É certo que fica sempre
Bastante pó das asas de você
Nos galhos, nos espinhos,
Até nas flores dêsse mato...
Mesmo já pus reparo várias vezes
Nas asas de você estragadas pelas beiras...
Porém o essencial, o importante
É que apesar dêsse estrago inda você pode voar.

Eu não sou assim não.
Sou pesado, bastante estabanado,
Não tenho asa nem muita educação.
Careço de caminho largo, bem direito.
Si falta espaço, quebro tudo,
Me firo, me fatigo... Afinal caio.
No meio do mato eu paro, não posso mais caminhar.
Não posso mais.

Você... É possível que ainda me chame de amigo...
Mesmo perdendo um bocadinho de asa
Pousa no meu espinheiro e inda pode voar depois.
Mas eu, eu sofro é certo,
Porém já não sou mais amigo de você.

Você é amigo do mar, você é amigo do rio...


18.2.11

Mario Benedetti

Memorándum


Uno llegar e incorporarse el día
Dos respirar para subir la cuesta
Tres no jugarse en una sola apuesta

Cuatro escapar de la melancolía
Cinco aprender la nueva geografía
Seis no quedarse nunca sin la siesta

Siete el futuro no será una fiesta
Y ocho no amilanarse todavía
Nueve vaya a saber quién es el fuerte

Diez no dejar que la paciencia ceda
Once cuidarse de la buena suerte
Doce guardar la última moneda


Trece no tutearse con la muerte
Catorce disfrutar mientras se pueda.

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16.2.11




As primas procuram sob a cama o camarim de lençóis.
Os primos pingam moedas nos cofrinhos.
Querem ver para crer e dividem uma poltrona.
Ao fundo risinhos de uma outra vida.
Uma menina traz a pipoca. Pouco falta agora.
A dois passos dali uma fila de baratas donairosas
cruza o tapete vermelho, as asas palpitando.
Os primos despem-nas com olhos arregalados.
Sedas, plumas, tiaras e pedrarias.
As meninas apagam a luz e deixam o quarto.
Os ninhos da casa suspiram.
As mulheres do seu tempo não são mais feitas de carne.


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28.1.11



Exemplar do último livro impresso em papel, circa 2111.
Medidas: 0,9mm x 0,9mm. Bom estado de conservação.
Capa e lombada com sinais de desgaste nas bordas.
Manchas do tempo no corte.
Assinatura do antigo dono na folha de rosto.
Miolo em bom estado.
Anotações a caneta microscópica nas margens direitas.
Esparsas manchas de acidificação.

Favor não tocar.

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24.1.11

Há um castelo em Itaipava



E ele ainda está de pé. Desde 1915, quando saiu do projeto de Lúcio Costa para a realidade concreta. Itaipava também está de pé, erguendo-se aos poucos após a tragédia. Por viver basicamente do turismo, produção artesanal e agrícola, ela precisa do apoio dos seus visitantes. Suas pousadas, bares, restaurantes e shoppings estão funcionando normalmente, a vida continua e todos precisam trabalhar para reerguer suas vidas. Se você pensa em visitar Itaipava, não deixe de vir. Precisamos de sua força para ajudar os desabrigados e evitar o desemprego. Há um castelo em Itaipava, sólido como o coração da cidade. Abraços.

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21.1.11




A mala está pronta no quarto.
O presente não conjuga mais as paredes.
Há sempre uso para o que de tempos em tempos bate asas.
É como ser criança outra vez.
Amassado entre as meias de dormir,
coloquei-o no trem que levaria ao porto.



(texto: Maira; ilustração: De Niro, Sr., o original.)

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8.1.11




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